Comunidade do Ethereum publica manifesto em defesa da descentralização

Texto de Vitalik Buterin e pesquisadores da Ethereum Foundation pede atenção ao risco de perder princípios históricos da Web3.

O ecossistema do Ethereum voltou a discutir seus princípios básicos após a publicação do “The Trustless Manifesto”, assinado por Vitalik Buterin, cofundador da rede, e pelos pesquisadores Yoav Weiss e Marissa Posner, integrantes do Account Abstraction Team da Ethereum Foundation. O texto reafirma um compromisso que acompanha o projeto desde sua criação. A ideia de que um sistema blockchain só permanece justo, seguro e acessível quando suas regras dependem de matemática e consenso público, e não da boa vontade de intermediários.

O manifesto surge em um momento em que o setor vive uma contradição. A adoção cresce, a tecnologia evolui e novos produtos surgem diariamente, mas parte dessa expansão tem feito a comunidade se afastar das bases da Web3, muitas vezes sem perceber. Entre os exemplos citados pelos autores estão serviços centralizados que filtram transações, sequenciadores únicos em rollups e o uso quase obrigatório de provedores de infraestrutura hospedados em nuvens privadas.

O que significa ser trustless na prática

O manifesto dedica uma parte importante para explicar o que, de fato, caracteriza um sistema verdadeiramente trustless. Segundo os autores, isso ocorre quando qualquer participante honesto pode entrar, verificar informações e agir na rede sem pedir permissão e sem temer bloqueios silenciosos.

Para que isso seja possível, o manifesto apresenta seis pilares que sustentam a confiança zero.

Autossoberania. O usuário deve ser capaz de autorizar suas próprias ações, sem que empresas executem operações por ele.

Verificabilidade. Todas as informações precisam ser confirmáveis por qualquer pessoa a partir de dados públicos.

Resistência à censura. A rede deve conseguir incluir transações válidas em tempo razoável e com custos justos.

Walkaway test. Se um operador desaparecer ou agir de forma maliciosa, outro deve conseguir assumir o papel sem depender de aprovações especiais.

Acessibilidade. Participar do protocolo deve ser possível para usuários comuns, e não apenas especialistas com servidores e capital.

Transparência de incentivos. As regras devem ser definidas pelo protocolo, nunca por contratos privados ou APIs opacas.

Os autores lembram que, quando qualquer um desses elementos falha, o sistema deixa de funcionar como um protocolo neutro e começa a se parecer com uma plataforma privada, sujeita ao controle de poucos.

As três leis que um sistema descentralizado precisa seguir

Além dos seis pilares, o manifesto apresenta três leis que todo design realmente trustless deve obedecer.

Nenhum segredo crítico. Um protocolo não pode depender de informações privadas de um único ator. Tudo o que é essencial deve ser aberto, auditável e verificável.

Nenhum intermediário indispensável. Qualquer operador precisa ser substituível. O sistema falha quando depender de empresas ou entidades que os usuários não têm como trocar.

Nenhum resultado impossível de verificar. Tudo o que altera o estado da rede deve ser reproduzível a partir de dados públicos. Se uma parte do processo fica escondida, a confiança deixa de ser criptográfica e passa a ser humana.

Os autores admitem que seguir essas leis torna o desenvolvimento mais complexo e lento, mas defendem que esse é o único caminho para preservar um ecossistema que pertence a todos.

Os sinais de centralização que já estão visíveis hoje

O manifesto destaca que a erosão da descentralização não acontece de forma abrupta. Ela surge por meio de práticas que parecem inofensivas. Serviços centralizados que dominam a infraestrutura, operadores únicos em soluções de segunda camada e aplicativos que deixam de funcionar caso provedores de nuvem tenham instabilidades são exemplos de como o setor já enfrenta riscos reais.

Outro ponto citado é a própria autocustódia. Mesmo sendo um dos pilares do universo cripto, ainda é comum que usuários deleguem esse controle a corretoras centralizadas, o que enfraquece a soberania individual e cria pontos únicos de falha.

Um chamado para preservar o futuro da Web3

O manifesto termina com um convite para que a comunidade volte a priorizar sistemas realmente neutros, verificáveis e acessíveis. A defesa da confiança zero não é apresentada como nostalgia, mas como condição para que o ecossistema siga aberto e resiliente à medida que cresce.

Usuários e desenvolvedores podem assinar o manifesto na Ethereum mainnet, registrando publicamente o compromisso de apoiar a construção de sistemas que funcionam independentemente de intermediários e que preservam a essência da Web3.

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