O mercado de criptomoedas vive um novo auge em 2025. O valor total dos ativos digitais ultrapassou US$ 4 trilhões, quase o dobro do registrado no ano anterior. Esse crescimento, impulsionado principalmente pelo Bitcoin e outras moedas sem lastro, veio acompanhado de um alerta do Financial Stability Board (FSB), órgão internacional ligado ao G20 responsável por promover estabilidade e segurança no sistema financeiro global.
O relatório divulgado nesta quinta-feira, 16, avaliou como os países estão aplicando as recomendações feitas em 2023 sobre a regulação de criptoativos e stablecoins. O documento mostra que, apesar de avanços pontuais, poucos governos têm regras completas e realmente alinhadas às boas práticas internacionais.
Regulação ainda desigual
Segundo o levantamento, apenas 11 países ou blocos econômicos têm marcos regulatórios prontos para o setor de criptoativos, entre eles União Europeia, Japão, Singapura e Bahamas. Outros, como Brasil, Coreia do Sul e Suíça, ainda estão discutindo ou finalizando suas propostas. Essa diferença de ritmos cria um problema conhecido como arbitragem regulatória, em que empresas buscam atuar em locais com regras mais brandas.
O estudo também mostra que ainda existem falhas importantes na fiscalização de atividades de maior risco, como empréstimos, operações alavancadas e staking. Muitos desses serviços continuam fora do alcance das autoridades financeiras, o que aumenta a vulnerabilidade de um mercado cada vez mais conectado ao sistema financeiro tradicional.
Stablecoins em foco
Outro ponto destacado no relatório é o crescimento das stablecoins, moedas digitais que buscam manter paridade com moedas como o dólar. Elas aumentaram quase 75% em um ano, chegando a US$ 290 bilhões em circulação. Mesmo assim, apenas cinco jurisdições, entre elas União Europeia, Hong Kong e Japão, possuem regras completas para emissores desse tipo de ativo.
Em boa parte dos países, ainda faltam regras claras sobre lastro, gestão de risco e planos de contingência em caso de crise. Essa falta de padronização preocupa o FSB, especialmente porque muitas dessas moedas operam em escala global.
A corrida pela regulação
O Brasil aparece entre os países que mais avançaram nos últimos meses. Desde o Decreto 11.563 de 2023, o Banco Central passou a supervisionar as empresas que oferecem serviços com ativos virtuais. O órgão também abriu uma consulta pública para discutir novas regras e diretrizes para o setor.
Nos Estados Unidos e na China, o cenário é bem diferente. A China mantém a proibição total de criptomoedas, enquanto os EUA trabalham em projetos de lei como o Digital Asset Market Clarity Act (CLARITY) e o GENIUS Act, que tentam criar uma estrutura nacional para stablecoins.
Desafios globais de cooperação
O relatório também chama atenção para a falta de cooperação internacional. O FSB aponta que ainda há pouca troca de informações entre os países, o que dificulta o combate a riscos em um mercado sem fronteiras. Diferenças legais, ausência de dados padronizados e barreiras de sigilo agravam esse cenário.
O órgão recomenda mais colaboração entre autoridades, criação de ferramentas conjuntas de supervisão e melhoria na coleta de dados sobre operações globais. O objetivo é evitar que falhas locais provoquem efeitos em cadeia na economia mundial.
O recado do FSB
O relatório termina com oito recomendações principais, entre elas acelerar a criação de regras, fechar brechas na supervisão de empresas que lidam com criptoativos e fortalecer a governança do setor.
O FSB reforça que o avanço das criptomoedas precisa andar junto com o desenvolvimento de políticas sólidas de regulação. Caso contrário, o setor pode repetir erros que já causaram crises financeiras no passado.