O Ethereum é hoje a segunda maior blockchain do mundo, atrás apenas do Bitcoin. Mas seu caminho até aqui não foi linear. Desde o lançamento, em 2015, a rede passou por momentos de crise, divisões internas e grandes atualizações. Tudo isso ocorreu por meio de um mecanismo chamado fork, um processo que permite alterar as regras da blockchain.
Na prática, um fork funciona como uma atualização de software. No entanto, em uma rede descentralizada, sem chefes ou autoridades centrais, essas mudanças só acontecem quando a comunidade chega a um acordo. E, quando o consenso não existe, pode surgir uma divisão permanente, criando duas blockchains diferentes.
O que é um fork
Um fork pode ser entendido como um ajuste no protocolo que rege o funcionamento da rede. Ele é necessário para corrigir falhas, incluir novas funcionalidades ou mudar a forma como blocos e transações são validados.
Existem dois tipos principais:
Soft fork: traz mudanças compatíveis com versões anteriores. Quem não atualiza ainda consegue interagir com a rede. É como se uma comunidade passasse a usar palavras mais formais em seu idioma, mas sem deixar de ser compreendida por quem fala a versão básica.
Hard fork: provoca uma ruptura. As novas regras não funcionam com as antigas, e quem não atualiza fica de fora. Se parte da comunidade decide seguir no sistema antigo, ocorre a divisão em duas blockchains independentes.
Por que os hard forks acontecem
Hard forks costumam surgir quando há desacordo em pontos cruciais, como:
– Estratégias para aumentar a escalabilidade da rede.
– Inclusão de novas funcionalidades.
– Mudanças no algoritmo de consenso.
– Divergências filosóficas sobre o propósito do projeto.
Se a comunidade não chega a um consenso, um grupo pode seguir com sua própria versão da blockchain, criando um caminho paralelo.
O caso The DAO: a origem do Ethereum Classic
O episódio mais famoso ocorreu em 2016. Um ataque ao projeto The DAO, que reunia recursos de investidores em Ethereum, resultou no roubo de milhões de ETH. Diante disso, surgiu o dilema: devolver os fundos roubados por meio de uma alteração na blockchain ou manter a imutabilidade da rede, princípio que diz que “o código é lei”.
A maioria optou por intervir. Foi criado um hard fork que reverteu o ataque e devolveu os recursos às vítimas. Essa versão continuou sendo chamada de Ethereum (ETH). Uma minoria discordou da decisão e seguiu na cadeia original, que passou a se chamar Ethereum Classic (ETC). Desde então, as duas redes coexistem de forma independente.
The Merge: a atualização que mudou tudo
Em setembro de 2022, o Ethereum passou por uma das maiores mudanças de sua história. O evento conhecido como The Merge marcou a substituição do mecanismo de consenso Proof of Work, baseado em mineração e alto consumo de energia, pelo Proof of Stake, que utiliza validadores escolhidos pelo depósito de ETH.
Dessa vez, a atualização foi planejada e recebeu apoio majoritário. A transição reduziu o gasto energético da rede em mais de 99% e abriu espaço para futuras melhorias em escalabilidade. Ao contrário de 2016, não houve divisão, e a rede seguiu unificada.
Uma rede em constante evolução
A trajetória do Ethereum mostra que os forks são parte essencial de sua evolução. Enquanto o Bitcoin acumulou diversas divisões que deram origem a moedas concorrentes, o Ethereum concentrou sua maior ruptura em 2016 e, desde então, apostou em atualizações coordenadas e planejadas.
Hoje, o Ethereum consolidou-se como a principal plataforma de contratos inteligentes, operando sob o Proof of Stake. Já o Ethereum Classic manteve-se fiel à imutabilidade e ainda funciona em Proof of Work.
Compreender os hard forks do Ethereum é entender como escolhas técnicas e filosóficas moldaram uma das redes mais influentes do ecossistema cripto e continuam definindo seus próximos passos.