O Banco Central (BC) divulgou na terça-feira, 25, uma atualização completa das Estatísticas do Setor Externo, incluindo uma revisão metodológica que altera de forma significativa o tratamento das transações com criptoativos no balanço de pagamentos.
A mudança segue as novas recomendações do Fundo Monetário Internacional e aperfeiçoa a forma como o país registra operações digitais envolvendo residentes e não residentes. O relatório também traz os resultados mais recentes das contas externas referentes a outubro de 2025.
Déficit das transações correntes diminui em outubro
Segundo o documento, o Brasil registrou déficit de US$5,1 bilhões (R$27,4 bilhões) nas transações correntes em outubro de 2025, abaixo dos US$7,4 bilhões (R$39,7 bilhões) observados no mesmo mês do ano anterior. A melhora foi puxada pela balança comercial de bens, que apresentou superávit de US$6,2 bilhões (R$33,3 bilhões).
No acumulado de 12 meses, o déficit em transações correntes somou US$76,7 bilhões (R$411,8 bilhões).
Investimento estrangeiro direto tem forte alta
O relatório mostra que o Investimento Direto no País atingiu ingresso líquido de US$10,9 bilhões (R$58,5 bilhões) em outubro, bem acima dos US$6,7 bilhões (R$36,0 bilhões) registrados no mesmo mês de 2024. A maior parte veio de participação no capital, incluindo reinvestimento de lucros e novos aportes.
Em 12 meses, o IDP acumulado totalizou US$80,1 bilhões (R$430,1 bilhões).
Revisão histórica muda classificação dos criptoativos
O Banco Central também anunciou uma revisão metodológica extraordinária que altera a forma como as transações com criptoativos são classificadas. A partir das diretrizes atualizadas do FMI, os ativos passam a ser divididos em dois grupos: criptoativos sem passivo correspondente, como Bitcoin, que seguem registrados como ativos não financeiros na Conta de Capital, e criptoativos com passivo correspondente, como stablecoins a exemplo de USDT, que passam a ser reconhecidos como ativos financeiros na Conta Financeira.
A separação tornou-se possível graças ao avanço dos contratos de câmbio, que desde 2024 passaram a identificar o nome do criptoativo negociado. Com isso, o Banco Central conseguiu distinguir se o ativo negociado possui ou não emissor. O documento mostra que, até 2021, a maior parte das operações envolvia criptoativos sem passivo. A partir de 2022, porém, as transações com ativos com passivo correspondente cresceram rapidamente e passaram a dominar o fluxo entre residentes e não residentes.
Séries históricas revisadas e novos dados no SGS
A revisão reclassificou transações realizadas desde 2019. Segundo o Banco Central, foram realocados da Conta Capital para a Conta Financeira US$129 milhões (R$693 milhões) em 2019, US$1,2 bilhão (R$6,4 bilhões) em 2020, US$2,8 bilhões (R$15,0 bilhões) em 2021, US$6,0 bilhões (R$32,2 bilhões) em 2022, US$11,3 bilhões (R$60,7 bilhões) em 2023, US$14,9 bilhões (R$80,1 bilhões) em 2024 e US$11,3 bilhões (R$60,7 bilhões) em 2025 até setembro. Esses valores passam a constar em novas tabelas específicas e também serão disponibilizados no Sistema Gerenciador de Séries Temporais do Banco Central.
Reservas internacionais sobem no mês
As reservas internacionais alcançaram US$357,1 bilhões (R$1,92 trilhão) em outubro. O aumento foi impulsionado por receitas de juros de US$809 milhões (R$4,34 bilhões) e variações de preços de US$736 milhões (R$3,95 bilhões). O crescimento fortalece a reserva de segurança financeira do país, importante para enfrentar períodos de volatilidade internacional.
Passo decisivo para acompanhar a economia digital
A nova metodologia coloca o Brasil em sintonia com as práticas mais modernas de contabilidade internacional e permite uma leitura mais precisa da crescente participação dos criptoativos nos fluxos financeiros globais. Com a Resolução BCB 521, que passa a valer em maio de 2026, prestadoras de serviços de ativos virtuais também deverão enviar dados detalhados sobre pagamentos e transferências internacionais, o que ampliará ainda mais o monitoramento oficial. O resultado final é um retrato mais fiel da economia digital brasileira e uma base estatística mais robusta para orientar decisões públicas e privadas.