Stablecoins ganham espaço nos games e prometem unir diversão e economia real

Relatório da BGA mostra como as stablecoins estão mudando o setor dos jogos e abrindo caminho para novas formas de renda, previsibilidade e inclusão financeira.

Os videogames estão deixando de ser apenas uma forma de lazer e assumindo um papel central na economia digital. É o que aponta o relatório “Stablecoins & Gaming 2025”, publicado pela Blockchain Game Alliance (BGA). O estudo revela como as stablecoins, criptomoedas com valor estável atrelado a moedas fiduciárias como o dólar, estão transformando o setor ao oferecer previsibilidade, inclusão financeira e novas possibilidades de monetização.

De acordo com o relatório, o mercado global de games já ultrapassa 3 bilhões de jogadores e pode movimentar US$ 350 bilhões (cerca de R$ 1,89 trilhão) até 2030. Para a BGA, os jogos representam o ambiente ideal para consolidar o uso de ativos digitais, já que os usuários estão acostumados a lidar com moedas virtuais e a atribuir valor a itens digitais. Agora, o desafio é conectar esse comportamento à economia real.

Do hype à estabilidade

O documento destaca que os jogos baseados em tokens voláteis, como o Axie Infinity, foram importantes para popularizar o uso de criptomoedas, mas acabaram mostrando as limitações de modelos sustentados pela especulação. O estudo aponta que, quando as recompensas dependem de ativos instáveis, o engajamento dos jogadores cai junto com o valor das moedas, o que compromete a sustentabilidade de longo prazo.

Por outro lado, experiências de sucesso como Roblox e Fortnite mostraram que a estabilidade é o fator mais importante para o crescimento contínuo. Em vez de depender da valorização de tokens, essas plataformas utilizam moedas internas de valor fixo, como Robux e V-Bucks, que mantêm previsibilidade e incentivam a produção de conteúdo. O relatório cita que, em 2024, os criadores de conteúdo de Fortnite receberam US$ 352 milhões (R$ 1,9 bilhão) em pagamentos, resultado de um ecossistema baseado em confiança e estabilidade.

Stablecoins como solução “token-light”

A BGA define as stablecoins como uma “solução token-light”, isto é, uma forma de usar a blockchain sem depender de tokens especulativos. Essa abordagem permite economias digitais mais previsíveis e sustentáveis, ao mesmo tempo em que simplifica o acesso de novos usuários.

Entre os benefícios listados estão pagamentos internacionais instantâneos, redução de custos operacionais e proteção contra a volatilidade de mercado. Para estúdios independentes, especialmente em países emergentes, isso representa uma forma de acessar o mercado global sem depender de sistemas bancários tradicionais.

O brasileiro Matheus Vivian, CEO da Hermit Crab, é um dos exemplos citados no relatório. Ele afirma que as stablecoins ajudam a tornar os fluxos de pagamento mais ágeis e previsíveis, o que é essencial para desenvolvedores que trabalham com parceiros no exterior. Segundo ele, a previsibilidade de receita e a eliminação de barreiras cambiais criam um ambiente mais saudável para os estúdios brasileiros.

Casos reais de uso em games

O relatório traz diversos exemplos de plataformas e jogos que já incorporaram stablecoins em seus sistemas. O caso mais emblemático é o da GAMEE, integrada ao Telegram e à TON blockchain, que utiliza stablecoins em seu sistema de recompensas. A adoção desse modelo ajudou a impulsionar um crescimento de 320% no uso da TON em 2024, alcançando 12,4 milhões de carteiras ativas.

Outro exemplo é o MapleStory Universe, projeto da Nexon, que realiza testes com stablecoins em um ambiente controlado. A empresa busca criar um sistema de economia previsível e global, capaz de oferecer aos jogadores uma experiência estável e transparente.

O relatório também cita The Sandbox, plataforma de metaverso baseada em Ethereum, que começou a testar o uso de stablecoins em operações internas para reduzir o impacto da volatilidade do token SAND. Além disso, redes como Immutable e Polygon Labs já oferecem suporte nativo a pagamentos e marketplaces baseados em stablecoins, permitindo que desenvolvedores recebam e movimentem recursos com liquidez instantânea.

Segundo dados do relatório, 14% dos jogos Web3 ativos já utilizam stablecoins de alguma forma, seja em pagamentos, recompensas internas ou integração a marketplaces digitais. Esse número mostra que a adoção, antes experimental, começa a se tornar parte estrutural da indústria.

Regulação e legitimidade global

O estudo também aborda os avanços regulatórios que estão dando mais segurança ao uso das stablecoins. Nos Estados Unidos, o GENIUS Act, aprovado em 2025, reconhece oficialmente essas moedas como instrumentos de pagamento e exige reservas auditadas e regras claras de compliance.

Na União Europeia, o regulamento MiCA, em vigor desde 2024, estabelece diretrizes para o uso de stablecoins licenciadas e limita o alcance de moedas não auditadas. Em países asiáticos como Japão, Singapura e Hong Kong, as stablecoins já são reconhecidas legalmente e estão sendo integradas a plataformas digitais de jogos e entretenimento.

Para a BGA, esse avanço regulatório é o que permitirá que as stablecoins deixem de ser um experimento e se tornem uma infraestrutura essencial da economia digital. O relatório afirma que “a legitimidade jurídica e a estabilidade de valor são as chaves para destravar a próxima onda de inovação em jogos e finanças digitais”.

O futuro de “Play to Pay”

A principal tendência identificada pela BGA é o conceito de “Play to Pay”, que transforma o tempo dedicado aos jogos em valor real. Segundo o relatório, essa mudança representa uma evolução em relação ao modelo “Play to Earn”, com foco em sustentabilidade, valor estável e utilidade prática.

O CEO da Nexus, Henry Chang, resume a visão do setor ao afirmar: “Quando o valor é estável, o engajamento cresce, a confiança se expande e a inovação floresce.”

Em 2024, o volume mensal de transações com USDT, USDC e DAI atingiu US$ 1,36 trilhão (aproximadamente R$ 7,34 trilhões), e o total anual chegou a US$ 27,6 trilhões (R$ 149 trilhões), ultrapassando as médias combinadas de Visa e Mastercard. Esses números reforçam o papel das stablecoins como pilar financeiro da nova economia digital.

Um novo capítulo para os jogos digitais

O relatório da Blockchain Game Alliance conclui que as stablecoins estão inaugurando uma nova fase para o setor de games. Ao combinar estabilidade, escalabilidade e integração global, elas transformam o entretenimento em um vetor de inclusão financeira e inovação tecnológica.

Mais do que uma tendência passageira, as stablecoins se consolidam como um modelo econômico estável, capaz de conectar jogadores, desenvolvedores e empresas de forma segura e previsível. O futuro dos games, segundo a BGA, será definido por uma economia digital onde jogar, criar e transacionar fazem parte de um mesmo ecossistema sustentável.

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