A fusão entre jogos eletrônicos e finanças digitais ganhou nome próprio: GameFi. O termo, derivado da junção de “game” e “finance”, descreve um movimento que transforma títulos de entretenimento em plataformas de geração de renda. A lógica é simples e sedutora: o jogador se diverte e, ao mesmo tempo, recebe recompensas em criptoativos.
A ideia conquistou espaço nos últimos anos ao prometer um novo modelo econômico para gamers. Em vez de apenas gastar em consoles, jogos ou acessórios, o usuário teria a chance de ser remunerado pelo tempo e dedicação. Mas, por trás do entusiasmo, experiências recentes mostraram que há riscos significativos e lições importantes a serem aprendidas.
O motor da GameFi
No coração desse fenômeno está a blockchain, tecnologia que possibilita a criação de economias digitais autônomas dentro dos jogos. Itens, personagens e terrenos podem ser representados por NFTs, que funcionam como ativos únicos e negociáveis. Além disso, muitas plataformas criaram tokens próprios, utilizados como moedas internas e que chegam a ter cotação no mercado.
Esse ecossistema permitiu a expansão de modelos como o play-to-earn, em que jogadores acumulam tokens e os convertem em renda. O exemplo mais emblemático foi o Axie Infinity, lançado em 2018 e popularizado durante a pandemia. No auge, moradores de países como Filipinas, Venezuela e Brasil chegaram a obter ganhos mensais consideráveis apenas jogando.
Do auge à queda
A euforia, no entanto, teve prazo de validade. O token principal do Axie, o SLP, desvalorizou rapidamente conforme a base de usuários crescia. O modelo dependia da entrada constante de novos jogadores para sustentar os preços, o que levou a comparações com esquemas insustentáveis. Quando o ritmo de adesão desacelerou, a economia virtual entrou em colapso, e muitos usuários amargaram prejuízos.
Casos semelhantes ocorreram com Crypto Cars, CryptoZoon, Plant vs Undead, Binemon e outros. Em comum, todos prometeram retornos fáceis, mas careciam de bases sólidas: jogabilidade envolvente, economia equilibrada e comunidade engajada. Com a queda nos valores dos ativos e o sumiço de desenvolvedores, diversos projetos foram abandonados, deixando jogadores no prejuízo.
Um setor em maturação
Esses episódios revelaram um ponto essencial: nem todo jogo que paga é sustentável. Hoje, a GameFi passa por um processo de amadurecimento. Novos projetos buscam equilibrar diversão e recompensa, adotando modelos como play-and-earn ou free-to-own, em que a experiência de jogo é prioridade e a possibilidade de ganhos surge como complemento.
Outro pilar em ascensão é o das comunidades descentralizadas. Muitos jogos permitem que os próprios usuários participem de decisões estratégicas, por meio de fóruns, DAOs ou votações com tokens. Essa estrutura fortalece o vínculo entre jogadores e projetos, mas também exige senso crítico e conhecimento para avaliar propostas e riscos.
O que o jogador precisa saber
Para quem deseja explorar esse universo é fundamental estudar antes de investir Compreender como funciona a economia interna, quem são os desenvolvedores, como são distribuídas as recompensas e qual o grau de transparência do projeto pode evitar dores de cabeça.
Também é crucial estar atento a golpes. Muitos títulos são lançados apenas para captar recursos rapidamente e desaparecer em seguida. Checar se a iniciativa é auditada, se a equipe é conhecida e se a comunidade é ativa são medidas essenciais.
Entre riscos e oportunidades
A GameFi já não tem o mesmo destaque de alguns anos atrás, mas ainda ocupa um espaço importante no universo da Web3. A ideia de misturar jogos com economia digital segue atraindo projetos e comunidades que buscam novas formas de diversão e também de remuneração dentro dos games.
Hoje, o setor está menos ligado à promessa de lucros rápidos e mais voltado para a criação de experiências colaborativas e acessíveis. Quando bem feitos, os projetos podem oferecer mais engajamento, itens digitais com real valor e participação mais justa para os jogadores.
Mesmo longe do auge, a GameFi continua sendo vista como um campo de testes para inovações, que pode influenciar tanto o futuro dos jogos quanto a forma como entendemos a economia digital.